12.11.2010

Maria Madalena


Recebi um postal belíssimo de uma amiga em estudos pelo Velho Mundo com uma reprodução da tela La Madeleine à la veilleuse (Madalena ao candelabro, ou luz de velas, em minha risível tradução). Ilustrando esse post, uma imagem da obra. O pintor é Georges de la Tour (1593-1652), um francês que, diferente do natural percurso dos artistas da época, não viajou para a Itália. Contudo, a influência de Caravaggio é notória nos efeitos de contraste claro/escuro.

Não entendo nada a respeito de artes plásticas e, ao lado do cinema, é um dos campos onde mais sinto falta de ter uma formação minimamente decente. Justamente por isso busco a sabedoria dos amigos que se dedicam ao estudo de tais artes. E o quadro de Georges de la Tour me chamou a atenção dias atrás, e qual não foi minha surpresa ao receber não só o postal com uma reprodução do quadro, como também com uma pequena "aula manuscrita" a respeito dele. Reproduzo abaixo o texto do postal:

Maria Madalena é normalmente reconhecida na arte católica por seus ícones: um pote de perfume (de quando lavou os pés de Cristo) e o seu longo cabelo. Interessante que somente o cabelo é o que vemos neste quadro e também não há nenhum indício de que se trata de uma santa (ausência de auréola), algo que foi usado por Caravaggio, os santos são mostrados como simples humanos para que os fiéis se sintam mais próximos do divino. Acredita-se que essa cena seria quando a santa parte ao exílio e se retira em uma gruta em St Baume, na França. 

Como vemos, pela presença de um chicote na sua mesa, ela é penitente. Ela se prepara para a morte. Os livros e a cruz de madeira são para nutrir sua alma. O crânio é um dos elementos tradicionais de uma natureza morta (vanité), também uma "invenção" de Caravaggio, que simboliza a temporalidade da vida. A vela também tem esse significado mas igualmente o de presença divina. 

No que diz respeito a luz, ele difere de Caravaggio por ter a luz que vem de dentro do quadro. Ela esculpe o corpo e põe em evidência as linhas simples (o que é muito moderno para a época) da composição. E não, ela não está grávida, é um código visual da época. Esta é a última das quatro Madalenas que George de la Tour fez, o que mostra a popularidade do tema na época. Também nos leva a pensar que esta seria a mais "bem feita" das quatro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário