11.09.2011

O vozerio dos senhores de engenho pós-modernos


Após ver um monte de comentários sobre a ação da Polícia Militar na USP, a conclusão óbvia: as pessoas não pensam,  limitando-se a copiar como tontos papagaios o que vêem na televisão e o que lêem na Internet.

Não bastasse essa limitação inerente  ao homem-massa contemporâneo, o que torna esses comentários mais curiosos é a profusão de vivas, alvíssaras e parabenizações para a ação policial. O Brasil – e em especial a cidade de São Paulo – está se agitando em um caldo cultural cada vez mais autoritário e brutal. Adora a tranquilidade, acha linda as manifestações do “Sou da Paz”, fica todo emocionado nos especiais de Natal e tem uma certa antipatia por discussões de qualquer espécie, preferindo sempre uma amigável conciliação – afinal, segundo a tradição, somos um povo pacato, um povo receptivo, a feliz comunhão de todas as raças em harmonia. Porém toda essa bobagem convive, sem nenhuma suspeita de contradição, com uma beligerância discursiva contra os “que transgridem a lei”: o brasileiro adora morticínios de bandidos e ações da Tropa de Choque contra “baderneiros”. Afinal, quer “ordem”. Quer “tranqülidade”. E deseja que os bandidos e baderneiros sejam enterrados em pé porque ocupam muito espaço. Alborghetti, Datena e outros paraninfos da insegurança se multiplicam, e vemos seus clones nascerem às multidões em todos os lugares.

E agora, com as redes sociais, os pequenos tiranos do discurso ganham um espaço e alcance nunca antes imaginado. Seus discursos repetem-se a exaustão, e tal como Goebels já havia notado, uma mentira contada mil vezes se torna, enfim, uma verdade – e então de repente todos os estudantes da USP são maconheiros, revolucionários, mimados e sustentados pelos pais. Assim como todos os camelôs são uns arruaceiros que desgraçam o centro de São Paulo. Contra ambos, um remédio: a Ordem, personificada nos cassetetes e nas balas de borracha.

Nunca fui ligado a nenhum movimento estudantil e, durante meus anos na FFLCH, vi um monte de absurdos pregados por lá, com a cegueira idealista típica da juventude. Porém, não acredito em absolutamente nada da cobertura dada aos fatos pela grande mídia. Porque, caro leitor, essas coisas que os jornalistas e comentaristas de ocasião enchem a boca pra falar, esses tais “fatos”, não existem: nem mesmo uma foto é isenta de um discurso, e portanto de uma vontade cuja essência primordial é aniquilar uma outra. Fotos de latas de cerveja na reitoria, das pichações, etc são o combustível para que o ressentimento dos Datenas se inflame, para que o vírus autoritário cante mais alto um solene hino à truculência.

Era óbvio que o desfecho do episódio seria esse. Era óbvio que a PM ficaria na USP. Não questiono a presença dela por lá. A Cidade Universitária não é a Terra do Nunca, embora esteja isolada do restante do mundo. Vejo, como sempre, tudo com o viés de um observador curioso, que cataloga os dados da realidade para analisá-los e buscar o que se esconde por detrás da aparência. Porque sempre há uma barreira a ser desvendada e uma bobagem para ridicularizar. E no caso da Tropa de Choque na USP e os berros de alegria dos Datenas, o ridículo também existe, embora eu o aprecie com desgosto. Esse ridículo é o sintoma da doença que sempre existiu em nós: essa síndrome autoritária da casa grande, essa vontade de ser o “sinhozinho” do pedaço, esse ranço autoritário que emburrece e torna esse país um fiasco em termos de cultura e valor.

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